Conheça as dicas mais importantes para assegurar uma acolhida
tranquila para crianças e suas famílias
25 de Agosto 2015 - 05:20
A adaptação escolar não acontece apenas quando uma criança vai à
creche ou à pré-escola pela primeira vez, mas sempre que se depara com uma
nova etapa de ensino ou um novo ambiente, como uma mudança de escola ou de
turma.
Se o novo gera insegurança e ansiedade em qualquer idade, na Educação
Infantil, esse processo é ainda mais intenso. Saindo de suas zonas de
conforto, os pequenos se veem em um ambiente coletivo com regras diferentes
das de casa, são estimulados a participar de atividades incomuns ao seu dia a
dia e passam a conviver com adultos e crianças inicialmente estranhos.
A adaptação é esse momento de transição em que a criança vai se
habituando à nova rotina longe dos familiares que tem como referência. Dia
após dia, ela vai criando um vínculo com os professores, coleguinhas e
atividades, sentindo-se cada vez mais segura.
Não existe um tempo determinado para essa transição. "Em geral, o
período inicial da adaptação dura entre uma ou duas semanas, mas depende da
criança, da família e de suas experiências anteriores relacionadas às
separações que enfrentamos na vida", explica Cisele Ortiz, coordenadora
do Instituto Avisa Lá, de São Paulo.
Algumas posturas podem facilitar a chegada dos pequenos a esse novo
universo. Confira respostas às principais dúvidas sobre adaptação na Educação
Infantil:
1. Como se planejar para o período de adaptação?
Antes do início das aulas, é interessante que a escola faça uma
entrevista com os responsáveis para compor uma ficha com informações
detalhadas sobre cada criança. Esse encontro também é uma oportunidade de
criar um vínculo entre a instituição e a família e dar mais segurança aos
pais.
Vale questionar sobre brincadeiras preferidas, medos, quem está
presente no cotidiano da criança, quanto tempo ela costuma passar com os
pais, além de cuidados especiais de saúde e alimentação. Com essas
informações, fica mais fácil planejar atividades de acordo com os interesses
e experiências das turmas.
2. Como deve ser a recepção às crianças?
O professor deve demonstrar interesse em saber como a criança está,
mesmo que ela esteja agarrada ao colo da mãe, para criar uma aproximação e
transmitir segurança, mas sem forçar uma relação que ainda está sendo criada.
Para que a criança estabeleça um primeiro vínculo, o ideal é que seja
recebida sempre pela mesma pessoa, de preferência, algum dos educadores da
turma. No entanto, aos poucos, é preciso que ela crie consciência de que a
creche é um espaço coletivo. Ocasionalmente, o responsável pela recepção pode
se ausentar, por isso, é importante que esteja familiarizada com toda equipe
auxiliadora para se sentir segura.
3. Como orientar os pais a preparar as crianças para a Educação
Infantil?
Para os pequenos de até dois anos, sua rotina deve ser preservada ao
máximo. O diálogo entre família e educadores é importante para entender os
hábitos da criança e minimizar mudanças na transição casa-instituição
escolar.
Por volta dos dois anos e meio, já é possível explicar esse novo
momento e tirar dúvidas dos pequenos para que se sintam mais confortáveis.
"É essencial envolver a criança nos preparativos para ir à escola, como
arrumar a mochila e a lancheira. Isso faz com que ela perceba que está sendo
cuidada e que se sinta participante", recomenda Cisele.
4. Como deve ser a despedida dos familiares?
Este momento costuma ser regado a choro e negação da separação. Para
evitá-lo, alguns pais aproveitam a distração dos filhos para ir embora
despercebidos. Cuidado com esse tipo de atitude: no momento em que a criança
percebe que está sozinha, o choro vem acompanhado de um sentimento de
abandono e desespero.
A despedida é fundamental para a adaptação. "Por mais difícil e
doloroso que seja para ambos, construir uma relação com os filhos pautada na
confiança e na honestidade é sempre melhor. A clareza da despedida é saudável
e necessária", explica Cisele.
5. Que tipo de orientação o professor pode dar para tranquilizar os
familiares?
Ansiedade e insegurança são comuns na adaptação, um período intenso e
repleto de novidades. Essa sensação deve diminuir na medida em que a família
estabeleça uma relação de confiança com a escola.
"Se os familiares encararem a entrada na escola como algo
positivo, que gera autonomia, crescimento, amadurecimento e ajuda na
socialização, será ótimo para todos. Se for vivenciada como culpa pelo
abandono, será difícil para todos", coloca Cisele Ortiz.
Por isso, é importante que o educador "demonstre segurança,
confiança de que tudo vai dar certo e conte para os pais sobre as atividades
que serão realizadas", como propõe Ana Paula Yazbek, sócia-diretora do
Espaço da Vila - Berçário e Recreação, em São Paulo.
6. Os pais devem estar presentes no período de adaptação?
Os pais são essenciais nesse processo. A integração entre família e
escola deve acontecer desde o começo. Na creche, é importante que algum
familiar acompanhe o pequeno o tempo todo nos primeiros dias, para não
deixá-lo sem referência e prolongar uma adaptação mais sofrida.
Nessa fase, os aspectos sensoriais exigem bastante atenção do
educador. Até 10 meses de idade, os bebês sentem muita diferença no modo como
as fraldas são trocadas ou como são colocados para dormir, por exemplo.
Assim, a presença dos pais ajuda o professor a conhecer bem os hábitos de
cada criança.
"Na pré-escola, as crianças são ávidas por fazer amigos, já falam
bem e têm mais autonomia", explica Cisele Ortiz. Sua adaptação costuma
ser mais tranquila e pode ser realizada em pequenos grupos de duas ou três
crianças para facilitar sua integração. Mesmo assim, a presença dos
familiares não deve ser dispensada. Nos primeiros dias, eles podem ajudar os pequenos
a se ambientar ao local e ao tempo de execução das atividades.
Choro, objetos de
apego e atividades
7. O que fazer quando a criança chora pela ausência dos pais?
"Não se pode banalizar o choro. É como se a criança estivesse dizendo:
?que lugar é esse? Quem são vocês e o que eu estou fazendo aqui??. Tentar
mostrar o que está acontecendo e o que vai acontecer ajuda", analisa Ana
Paula Yazbek. O ideal é que o professor conforte os pequenos e converse sobre
o reencontro com os pais, além de oferecer atividades atrativas que possam
atrair sua atenção.
No berçário, como a adaptação acontece na presença dos pais, o bebê entende
que sua referência afetiva conhece aquele lugar e vai criando sua
ambientação. Num segundo momento, quando os familiares deixam de estar
presentes, é importante que a criança se sinta acolhida. Os objetos de apego
podem ajudar a confortá-las por remeterem ao ambiente familiar.
8. Criança que não chora já está adaptada?
O choro é uma forma de comunicação, mas algumas crianças se sentem retraídas
e não choram. "Não é porque a criança não está dando trabalho que ela
não precisa de atenção. É preciso olhar para essas crianças, acessá-las e
inseri-las nas atividades em que a turma está envolvida respeitando sua
vontade, mas sem ignorá-las", recomenda Ana Paula.
9. O que fazer quando a criança tem objetos de apego?
Objetos de apego, como paninhos, chupetas e brinquedos, dão
segurança emocional aos pequenos, pois remetem ao conforto do ambiente
familiar. Por isso, não é indicado que o professor "desafie" as
crianças a descartá-los durante o período de adaptação. Mais tarde, esse
significado vai se perdendo e o educador pode delimitar momentos em que tais
objetos sejam deixados de lado para não atrapalhar movimentos e até a fala,
por exemplo, durante as refeições ou brincadeiras.
10. Quais atividades são mais indicadas para o período de adaptação?
O ideal é que o professor planeje as atividades de acordo com a faixa etária
e as informações recebidas nas entrevistas com os familiares. As propostas
podem ser simples, o importante é que não sejam muito diferentes das que
farão parte do dia a dia das crianças ao longo do ano, para evitar
expectativas frustradas.
"Roda de histórias, roda de conversa, atividades com pintura, melecas e
transformações, brincadeiras ao ar livre com areia, terra ou barro são
atraentes para as crianças maiores. Para as menores, é preciso focar nos
cuidados essenciais e na manutenção da sua rotina", explica Cisele.
"Levar algo produzido na escola para casa, como um desenho ou uma
massinha, é interessante, porque faz com que a criança fortaleça o vínculo
entre os dois ambientes", destaca Juliana Lichy, coordenadora pedagógica
da Escola Criarte.
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